“Eu não fiz o suficiente...”
Por Rev. Eraldo Gueiros
(Reflexão Semanal Escrita 05/01/2010)
Um
de meus filmes prediletos que já assisti repetidas vezes é “A Lista de
Schindler”; especialmente o momento final quando seu protagonista diz: “...com
esse carro, eu poderia salvar pelo menos mais 8 ou 9 vidas. E esse anel, é de
ouro, pelo menos mais uma vida. Uma vida mais... Eu não fiz o suficiente...”.
Então aquele que havia sido seu secretário e contador na fábrica lhe diz: “Olhe
em sua volta, aqui a mais de 100 vidas que o senhor salvou...”.
O
filme sempre me faz lembrar das palavras do apóstolo Paulo em 1Co. 9:22: “Fiz-me
fraco para com os fracos, com o fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para com
todos, com o fim de, por todos os modos, salvar alguns”. Está claramente
identificado qual era o propósito maior, a motivação ministerial de Paulo: eram
vidas!
Quando
olho ao meu redor, e Deus permita que sua experiência seja diferente da minha,
e vejo as grandes discussões eclesiásticas, e a prioridade nos investimentos
“evangélicos”, eu me questiono: Qual tem sido a nossa real motivação no Reino
de Deus? Chamo de ‘real’ não o que falamos, mas o que praticamos de fato.
Será
o de construir templos? Enriquecer nosso currículo teológico? Possuir um
programa na mídia? Alcançar posições eclesiásticas na denominação? Preservar o
estilo litúrgico que me agrada? Está ligado ao “roll sociate” dos empresários e
políticos evangélicos da cidade? Promover os grandes eventos públicos da
igreja?
Não
se engane, porque há muita gente correndo atrás disso. Fazendo desses projetos
sua grande motivação. Acredito coerentemente que cada projeto desse possui sua
importância estratégica, mais eles não podem ser um fim em si mesmos. E boa
parte das vezes são!
Creio
que essa é uma das sutilezas do inimigo, para nos distrair do foco principal
que é a salvação de vidas. Se esses projetos não facilitam a nossa prioridade,
tenha certeza, elas acabam se tornando a própria prioridade, e nosso tempo será
roubado.
Tenho
acompanhado vários exemplos. Amigos que sonhavam ir a televisão para ter um
programa evangelístico, e hoje criaram apenas mais um programa para crentes.
Amigos que ousaram se aproximar de empresários e políticos “evangélicos” para
facilitar a promoção de campanhas evangelísticas, e acabaram seduzidas por um
cargo publico de assessoria. Gente que sonhou ver uma igreja explodindo de
gente, hoje se tornou quase um arquiteto de prédios, e muito deles vazios.
Precisamos
resgatar o nosso foco, a nossa missão e ser motivada por ela. Precisamos gastar
e nos deixar gastar pelas vidas que ainda estão perdidas, e algumas delas,
ainda dentro de nossas casas. Perdemos muito tempo com coisas secundárias, e
investimos muito em áreas que mais nos beneficiam do que naqueles que realmente
precisam.
Vou
dar um exemplo pessoal. Sempre compartilhei essa visão missionária na minha
igreja. Em nossa ultima reunião com as lideranças de sociedades e ministérios,
gastei um bom tempo para renovar essa visão. Pois quando recebi o planejamento
das programações de 2011, percebemos que haviam mais programações para crentes,
do que para ganhar os perdidos. Será que eles perderam a visão? Com certeza
não. A maioria nem percebeu essa desproporção. Eles estavam muito bem
intencionados e todas as programações eram muito boas. Mas sutilmente, se
aprovássemos todos os planejamentos, esse ano seria menos evangelístico. A
igreja faria menos pela obra missionária. Resumindo, menos pessoas ouviriam
falar do Amor de Deus.
Não desejo fazer desta reflexão uma crítica a quem quer
que seja, Deus sabe o meu coração. Desejo sim alertar, despertar, produzir uma
reflexão. Precisamos usar nossos dons e talentos a serviço do fim proveitoso
para o qual Deus nos deu, e não para os nossos próprios projetos pessoais.
Voltando as palavras de Schindler: Estamos fazendo o suficiente para resgatar
mais vidas para Jesus?
Uma boa semana de evangelização!
(Rev. Eraldo é pastor há 11 anos da Igreja Presbiteriana do Jordão Alto. Casado há 8 anos com Erika Patrícia e tem duas filhas: Raquel (5 anos) e Rute (2 anos). É presidente do Presbitério Centro do Recife e coordenador do Projeto Apocalipse 1:11).